quarta-feira, fevereiro 08, 2006

(in)felizes da fé

Sobre a manif na embaixada da Dinamarca
Esta é uma manifestação à qual não vou (convocatória aqui). Não é altura nem motivo para tomar a rua. D.B. já aqui falou sobre o assunto, e eu subscrevo.

Dizia ele: "Não acredito no propósito benemérito de quem publicou inicialmente os cartoons; não alinho na agenda editorial do jornal dinamarquês (em tudo coincidente com a extrema-direita europeia); não acredito que o ridículo e a blasfémia (por muito que ache a blasfémia ridícula) sejam o caminho para a democracia e o secularismo nos países muçulmanos. Não questiono o direito de publicação dos cartoons (era o que faltava). Mas questiono a sua publicação, precisamente pela necessidade de desafiar a podridão de certos regimes que se reivindicam do nome de maomé".
O tempo viria a dar-lhe razão. Sabe-se agora que há 3 anos este mesmo jornal recusara umas caricaturas de cristo (Guardian aqui via JAD); um cartoonista que decidiu gozar com a própria iniciativa foi acusado de cobarde pelo jornal (aqui). Ainda haverá dúvidas sobre o seu conceito de 'liberdade de imprensa'? E para quê alimentar a confusão entre Estado e imprensa (a manif será em frente da embaixada)?
Com certeza que a defesa da liberdade de imprensa constitui motivo para sair à rua. Mas esta convocatória (Rui Zink* entre outros) soa a ingenuidade: não me peçam para sair à rua aplaudindo uma iniciativa que condeno, agora mais do que nunca. Na Dinamarca, têm acontecido manifs semelhantes: são organizadas pela extrema-direita.

*estou certo que que para este fundador dos 'Felizes da Fé' (site aqui) a liberdade de pensamento e de expressão tenham uma história muito própria, como para outros por motivos diferentes. Na mitologia da faculdade que frequentei (FCSH - UNL) ainda se fala do episódio 'pornex' (nos tempos do "discurso sobre o filho-da-puta" de Alberto Pimenta, de 1983, aqui). Em baixo, entrada da exposição (1984, imagem daqui) Ao que se diz e especula (e isto vale o que vale), o reitor da UNL tentou na altura censurar a exposição, da qual participaram mvda, Rui Zink, Manuel João Ramos entre outros. Ainda assim, e porque aprecio as iniciativas dos Felizes da fé, resta dizer-me que esta manif me parece no mínimo...infeliz.

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