A leste do paradiso pouco de novo
Mao mao maria que não me ligas nenhuma,desculpem lá qualquer impertinência, mas não quero ser o cão que ladra quando vê a caravana passar. Mas nem por isso vou deixar de mandar as minhas bocas sobre o (in)famous natal dos hedonistas. Não era à toa que prometia ser o acontecimento social da última semana de 2005.
Sem grandes benefits da dúvida apareci então no Grémio Lisbonense, na "festa do fetishe esquerdista". E as expectativas em relação a esta festa de Natal eram justificadas. Organizada aficadamente por gente amiga (anarquistas de Lisboa e arredores, ex-paradiso ocupado ou velhos históricos de outras praças), com direito a lançamento de edições antipáticas (estão com bom aspecto, teria comprado um se tivesse dinheiro), prometia arrasar com os pesos-mortos da política esquerdista. Já tinha ouvido falar do espaço do Grémio Lisbonense, e não era para menos. Estava lá tudo para uma festa memorável. Mas não foi o caso, com muita pena minha.
Para mim, o Natal dos hedonistas teve muito pouco de antagonista e nada de nihilista. E isso é pena, ainda para mais quando a altura do ano era propícia ao circo, esquerdista, anarquista ou outro. Para mim a festa foi um simpático rendez-vous socialite de gente bonita e interessante (mesmo os punkitos estavam com bom aspecto), com algumas caras conhecidas, um ponto de encontro da nata intelectual e activista de Lisboa. Uma boa festa elitista, pois. E o que é grave é que isto satisfaça quem organizou a festa. Se esta festa celebrava o fetishe esquerdista, eu tenho cá para mim que a gente do paradiso tem o seu: o de serem reconhecidos como os nihilistas que gostariam de ser mas não conseguem. Ou alguém acredita que ver o Xico de pirilau em riste ou o Marx a coçar o escroto ainda chocam alguém? Esperava francamente algo um pouco mais arrojado de quem teve tanto tempo a aprender e a curtir nas festas que outros organizavam. Um sistema de som à altura, pelo menos. Já para não falar de um grande making out colectivo, suor e transpiração a escorrer da energia condensada nos janelões do Grémio. E um pouco de elitismo na escolha de Dj's. If everyone wants to be a dj...
Última nota, que isto já vai longo. Vale a pena esmiuçar um bocadinho o tema da festa, até porque tem dado para aí umas confusões. Não acho, como o João Ratão, que os ocupas sejam só retórica (a festa aí está para provar o contrário); mas também não propunha, como o Lulu faz crer, que os ocupas processassem os proprietários do passadiço. Só fiz uma caricatura de uma festa que me pareceu começar com o pé errado, isto é, em benefício ('benefit', é tão mais fixe dizer assim) da defesa em tribunal de um acto que, concordaremos todos, não é condenável, nem deveria ser. Haverá posição mais defensiva, desculpem lá o pleonasmo, que uma festa que pague uma defesa? Onde está o antagonismo nisto? Ou será que os ocupas se converteram ao prazer de fazer guita, pelo puro nihilismo de pagar a um advogado?
Estou a ser injusto, pois até me diverti e a cerveja esteve sempre fresquinha. E o Ricky põe um som altamente. Mas, fetishes falocêntricos à parte, esta festa trouxe pouco de novo. E eu espero sempre mais de quem nos habituou sempre a boas surpresas.
2 comentários:
O pior de tudo são as expectativas...por que raio é que a festa tinha de corresponder às tuas expectativas?a piada é toda essa:não corresponder às expectativas de ninguém!
Desculpa lá ó João Ratão, mas eu apesar de tudo tenho as minhas expectativas para tudo o que faço. Podes não ter tu, mas eu gosto de ir a um sítio ou fazer alguma coisa com uma ideia - mínima - daquilo que espero.
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