uindissiti

segunda-feira, novembro 03, 2008

crónica de uma morte anunciada


Primeiro estranha-se, depois entranha-se. 

Quando cheguei a Chicago em 2004 acabei a viver numa casa em Hyde Park, onde se exibia com orgulho um cartaz de campanha de um tal de Obama para o senado. Estranhei o nome, como do cabeleireiro da esquina. Quando saltou para o estrelato internacional, Obama já era figura conhecida nos meios do bairro, onde ainda vive, e na Universidade, onde ensinou. Mas foi com o duelo Kerry vs Bush que me entusiasmei primeiro -- só para apanhar também com a minha primeira desilusão: a apatia colectiva em torno da reeleição de Bush contrastava com a certeza inabalável, partilhada nos meios de onde vinha, quanto à necessidade de mudar de rumo na administração dos EUA.     

De há mais de um ano para cá que tomo esta campanha em colheradas doentias. Estive em comícios, andei na Pensilvânia no fim-de-semana anterior às primárias, lamentei a morte do melhor comentador político americano (e que falta fará amanhã...). Fui ziguezagueando o meu apoio incondicional a Obama com o cepticismo normal de quem assiste a uma campanha que mexe com mais de mil milhões de dólares. Agora, as eleições apanham-me em Angola, onde terei que me virar para arranjar um ecrã de televisão. É com amargura que não poderei acompanhar, in loco, os festejos (ou motins, dependendo dos resultados) em Chicago, a cidade que afinal dá o nome a este blog e para onde voltarei para o ano. 

Vai Obama desiludir-nos? Seria ingénuo achar que não. Mas por uma vez, quero estar do lado dos vencedores.  Se é de história que se faz esta campanha (e antes de pensar na manhã seguinte e para que o passado não se repita), quero entranhar o sabor doce da vitória. 

 

quinta-feira, maio 01, 2008

terça-feira, abril 22, 2008

revolução pixelizada e em toca-ecrã

Perceptive Pixel é a empresa que produz estes ecrãs. Para os aficionados das primárias, numa cnn perto de si, a noite eleitoral torna-se menos aborrecida.
Este fim-de-semana estive em Erie, Pensilvânia, e pude experimentar as novas urnas eleitoriais electrónicas, em mostra na biblioteca local. Optei pelo boletim republicano e votei em mim. A revolução será multi-toque, sem rasto de papel.

terça-feira, abril 08, 2008

Este blogue não vai acabar nem vai mudar para o sapo (evil!).
Em breve, notícias da Pensilvânia -- live, live! -- (e da tuga, e de angola. Oxalá.)

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

super 5a feira

Dei hoje os parabéns ao Figueiredo, capitão da selecção de Angola, na sede da Endiama. Categoria.

domingo, dezembro 16, 2007

segunda-feira, outubro 29, 2007

invasão da privacidade?

As vistas de rua do google chegam à cidade. Casa e carro, está aqui tudo; só falto eu para o retrato ficar completo. São mapas muito catitas, prontos para todas as emergências. Como os fogos da Califórnia.


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sexta-feira, outubro 26, 2007

contas de merceeiro: exercícios numa ciência oculta


$2,400,000,000,000. 2 milhões de 400 milhões de dólares (ou 2 triliões e 400 biliões?). É até agora a estimativa mais alta do custo da guerra. (disclosure): eu perco-me nos milhares de milhões.

Cada um dá o seu palpite. Há uns meses, o NYTimes fez as suas contas e chegou a 1.2 triliões. Há quem faça contas ao dia (300 milhões de dólares), há quem prefira a longue durée de uma semanita (2 biliões). Até agora, e em investimento aprovado pelo congresso, já se gastaram mais de 350 biliões de usd na ocupação do Iraque. Stiglitz (conselheiro Clinton, Nobel 2001, autor de Globalization and its Discontents -- mercadoria quentinha) aposta nos 2 triliões. Certo, certo é que longe vai o tempo em que um conselheiro da Casa Branca era despedido por sugerir que o custo total da guerra andaria nos 200 biliões de usd. (NYTimes)

Mas de acordo com estas contas do congresso, e prevendo que os EUA fiquem no Iraque e Afeganistão até 2017, o governo federal Americano enterrará qualquer coisa como 1900 pontes vasco da gama (a 897 milhões de euros cada) ou o equivalente a 4.3 anos do PIB de Portugal (a 229 mil milhões de dólares/ano). Trocado por miúdos, se os EUA decidissem brindar cada cidadão português em nome da paz com soma equivalente, isso dar-nos-ia qualquer coisa como 240 mil dólares. Notem que este truque de bruxaria só inclui o investimento federal, não calculando custos indirectos como o apoio médico aos soldados feridos ou o aumento no preço do petróleo. Só por isso é que é tão optimista: a 200 biliões de dólares/ano, só para o Iraque, mais os custos da ocupação do Afeganistão, não será difícil ultrapassar os 3 biliões de dólares num espaço de 14 anos (2003-2017). Nem vale a pena tentar meter o Irão nestas contas, lá chegaremos.

Eu só sei que não me importaria com os 240 mil dólares. Em nome da paz, claro.

(Hoje houve manifs nas principais cidades americanas)
(Entrevista de Joseph Stiglitz à Rolling Stone)

Um apoio visual, tirado de Crooks&Liars:


Isto são 9 milhões de dólares, à escala humana, e juntando cada nota de dólar.E isto são 315 biliões de dólares. O pontinho preto no canto é a figura anterior. Esta figura vezes 7 e têm a massa física do dinheiro gasto na guerra.

segunda-feira, outubro 22, 2007

são verdes, senhor

Cheguei hoje de um fim-de-semana de trabalho e conferências em NY. Foi a primeira vez que lá fui desde que aterrei em Chicago há 3 anos. E assim de raspão, a única diferença que me saltou à vista são as centenas de riquexós que apanham turistas para voltinhas em Manhattan. É um encontro p'rós-modernos: fica mais caro que um táxi normal mas poupa-se no carbono (embora se apanhe com muito).

Por aqui e lá ainda se anda de t-shirt nesta altura do ano.

quarta-feira, setembro 12, 2007

SHOUT! É hoje


Trezentos milhões de dólares foi quanto Mugabe doou à Igreja Católica no Zimbabué aqui há uns dias (notícia aqui). O que mais me choca não é a Igreja ter aceite o dinheiro; o que me choca mesmo é o facto desse dinheiro, 300 milhões zw$, não valer mais que $1000 usd em transação de rua. Parece anedótico mas não é: um rolo de papel higiénico leva menos papel do que aquele que é necessário para o comprar, em notas pequenas. Aqui fez-se uma conta simples: um maço de cigarros nas ruas de Harare foi visto à venda por Z$997 000. Até há um ano atrás, essa conta teria mais 3 zeros, ou seja 997 milhões. Aos preços de 1985, o autor dessas contas teria comprado a sua casa 39 mil vezes pelo preço de um maço de cigarros hoje. Colapso é dizer pouco sobre o que se passa hoje no Zimbabué, e a questão é saber quando vai acontecer, o que quer que aconteça.

Entretanto, podem sempre passar ali pelos lados do Braço da Prata, a caminho da expo. Soube do grito pela democracia e liberdade no Zimbabué pela Marta Lança. E é hoje às 21h30 na Ler Devagar*.

«Shout! Pela Democracia e Liberdade de Imprensa no Zimbabué».

Esta iniciativa decorre simultaneamente em variadas cidades do Mundo e consiste na leitura colectiva de poemas de autores zimbabueanos em espaços públicos, nas rádios locais ou nacionais, e é promovida pela Fundação Peter Weiss for Art and Politics no âmbito do Festival Internacional de Literatura de Berlim (de 4 a 16 de Setembro nesta cidade).

Lisboa junta-se ao apelo lançado pela Peter Weiss e propõe a leitura de poemas de autores zimbabueanos e ainda de outros autores (Mia Couto e João Cabral de Melo Neto são alguns) que enformem o alerta que se pretende deixar ao Mundo: a realidade no Zimbabué é desesperante, os media são controlados e a informação manipulada, o povo tem fome e as perseguições políticas assumem cenários dantescos.

Nomes como Luanda Cozetti (cantora), Chullage (rapper), Nástio Mosquito (performer), Tiago Gomes (editor), Belen (actriz argentina), Meirinho (actor) e Danae (cantora) confirmaram a sua participação no evento. Começa às 21h30.

*A livraria Ler Devagar/Eterno Retorno em Braço de Prata (antiga fábrica de armamento) fica junto à rotunda 25 Abril, a caminho do Parque das Nações. Na direcção Santa Apolónia-Expo encontra esta rotunda após os cilos da fábrica, faça meia rotunda para trás e entre na rua estreita à direita. Percorra o muro e entre no portão à direita. Estacionamento privativo e gratuito.
Manifesto pode ser lido aqui.
Sokwanele - Zvakwana (enough is enough) é um grupo de acção cívica interessante. E vale a pena acompanhar o blog, escrito do Zimbabué.

(isto segue em duplicado daqui)

terça-feira, agosto 28, 2007


Esta fotografia foi tirada na ilha de Evia no final de Junho. Por estes dias, é uma coluna de fumo vinda do norte de Atenas, como nesta imagem. Triste, triste, triste.

segunda-feira, agosto 20, 2007

atirar poeira não-transgénica para os olhos


Se há exemplo de vandalismo no Algarve é este. Ao lado da herdade do milho transgénico fica o morgado da Lameira. São 259 hectares que faziam parte da antiga Companhia Agrícola do Morgado da Lameira, SA. Foram comprados em 2005 pela Ocêanico Developments, uma empresa irlandesa de investimentos imobiliários. Em terrenos da Reserva Agrícola Nacional, e antes da obra estar licenciada, a empresa já vendia apartamentos no Reino Unido, com o chamariz do campo de golf no "tipo-deserto" do Algarve.


Este episódio é trágico porque diz tudo sobre o estado da protecção ambiental em Portugal (e no Algarve em particular: posso ser ainda um miúdo mas lembro-me da zona de Cabanas/Tavira antes do Macário Correia aparecer em cena). Mas como isto se repete vezes sem conta (ao contrário da porcaria de um hectar de milho transgénico), desta vez vou tentar contar a história toda.

Em Março de 2006, o Barvalento online noticia com pompa o início da construção do Amendoeira Golf --- sem que a Câmara de Silves tenha emitido qualquer licenciamento. São 800 unidades de habitação, hotel de 5 estrelas, centro hípico e de conferências, academia de golf, e 2 campos de golf. Uma coisa à maneira, daquelas que o Algarve tem pouco. Curiosamente, a construtora indica que os trabalhos começaram a Julho de 2005, ou seja, 3 meses antes do projecto de impacto ambiental dar entrada no Ministério de Ambiente, e muito antes, claro, de começar a consulta pública.


Por altura da "consulta pública", a empresa já vendia apartamentos no Reino Unido. "O empreendimento turístico que o grupo britânico Oceânico Development está a construir em Silves", noticiava o DN em Outubro de 2005, "está a fazer sucesso no Reino Unido. O projecto, avaliado em 400 milhões de euros, já tem 70% das propriedades reservadas." Tudo dentro da lei, pois claro. O estudo de impacto ambiental fora entretanto aprovado à presssa em 2006, com condicionantes, nunca cumpridas nem vigiadas. O vereador da CDU na câmara de Silves, em acta da reunião da câmara disponível online, declarava a Julho de 2006: "no caso das obras de mobilização de terras ocorrida no Morgado da Lameira para construção do Campo de Golfe, houve uma precipitação por parte dos donos da obra, sem reacção por parte dos serviços camarários"... quando -- surpresa! -- "as obras de mobilização violenta de terrenos de superior qualidade agrícola e arqueológica tinha já ocorrido."


Respeito pela lei? Pois: é que o Ministério da Agricultura, apesar das restrições à construção, deixa que se vandalizem os terrenos da Reserva Agrícola Nacional para "campos de golfe declarados de interesse para o Turismo pela Direcção-Geral do Turismo." Deixamos o país às decisões de patos-bravos do turismo e logo veremos os hotéis e os apartamentos, e os parques de estacionamento e tudo o que mais vem atrelado aos campos de golf. De interesse claro.

Ao pé disto (ou dos 2,8 milhões de hectares queimados em Portugal nos últimos 20 anos), ceifar um hectar de milho transgénico é brincadeira de miúdos. Que não me repugna nada, por razões semelhantes às defendidas por Miguel Portas. Os mesmos fanáticos que há uns anos comiam mioleira de vaca são os mesmos que hoje rejeitam liminarmente, à lei da bala se preciso for, qualquer princípio de precaução sobre transgénicos. E quando o Estado não cumpre a lei (desafio-vos a ler o decreto 72/2003 e a encontrar alguma nota no ministério do ambiente sobre João/José Menezes ou os seus 51 hectares de milho transgénico) há um vazio que alguém tem que ocupar -- ainda que simbolicamente como na 6a passada. Os agricultores biológicos do Algarve (quem protege os seus direitos?) sabem-na melhor: há umas semanas manifestaram-se contra a exploração transgénica por saberem que aquele milho, com valor económico irrisório, pode destruir o valor acumulado da agricultura biológica Algarvia pelo processo de polinização cruzada (sim, acontece: vejam este documentário aqui).

Falar do hectar de milho transgénico sem se discutir o problema dos OGMs ou da destruição em curso há 30 anos no Algarve é tapar o sol com uma peneira, esperando que esses problemas desapareçam se se levantar muita poeira com a discussão táctica de formas radicais de activismo. A questão é que toda a lei, já dizia Walter Benjamin, toma a violência como acto fundador. E no vazio legal em que o Estado colocou a região, o que me choca mesmo é ver o país a ser esventrado por interesses imobiliários.

terça-feira, agosto 14, 2007

sexta-feira, agosto 10, 2007

new kat on the block

uma tarde no estádio


Terça-feira no estádio da bola, com os principais candidatos democratas e uma multidão de alguns milhares de sindicalistas. Vinham todos pela AFL-CIO (federação sindical que junta 10 dos 15 milhões de trabalhadores americanos sindicalizados), que também organizou o debate. Apesar da all-mighty AFL de Nova York apelar ao voto em Hillary, o grande debate "laboral" aconteceu no Obamistão.


"At the direction of the United States Secret Service", dizia o bilhete de entrada, haveria medidas de segurança reforçadas. Quando me esquivei para um cigarro (estávamos ao ar livre), recomendaram-me as casas-de-banho por causa dos serviços secretos. Não são as mortes lentas que os preocupam e arrisquei na mesma. E cá estou para contar quando nada disto é já notícia.

Obama esteve frouxo mas escapuliu-se bem na história do Paquistão ('não aceito lições de quem autorizou o maior desastre de política externa de sempre'). Hillary saltita de plano de 3 pontos em plano de 3 pontos e teve que ouvir muito apupo. Edwards está definitivamente em esteróides e foi à boleia da única ovação da noite -- se não foi encomendado, este velhote fez-lhe um grande favor.


Bill Richardson é um panhonha que disse ao que vinha na sua primeira intervenção: 'I want to continue receiving your [AFL] financial support'. Mas Kucinich estava em casa e o comício foi dele. Usou-o bem, I'll tell ya how, para anunciar a saída da OMC e do NAFTA.

O resto é circo Rolling Stoniano de entrada gratuita e muitos lugares por preencher. Esperando por ver quem encaixa o dinheiro da AFL.


Logo à noite é em Los Angeles.

Mais sobre o debate da AFL-CIO:
no youtube e a transcrição do debate.
"Are you ready for some political football?" (blog NYtimes)
"Live-blogging the democratic forum" (blog NYtimes)
"Tuesday evening coming down" (Driftglass)